Ebola: viajantes têm direito a reembolso integral
Se a viagem for para um dos países que registram
casos, passageiro pode até propor troca de viagem, segundo associação de
defesa dos direitos do consumidor
- Inspeção no aeroporto de Abuja, capital da Nigéria – Foto: Afolabi Sotunde/Reuters
Desde que foi alçado à condição de “emergência de saúde pública
internacional” pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o surto de Ebola
que atinge a África Ocidental tem causado preocupação aos viajantes.
Agentes e fiscais de aeroporto usando máscaras de enfermagem já fazem
parte dos postos de imigração dos países afetados, como a Nigéria.
Mas, e quem já comprou passagem ou pacote para o continente africano?
Pode desistir da viagem sem gastar nada? “A questão é muito complicada,
diz respeito à preservação da saúde e da vida”, diz Maria Inês Dolci,
coordenadora institucional da Proteste.
De acordo com ela, o passageiro que declinar da viagem para algum dos
destinos que já registraram casos de Ebola – por enquanto, Libéria,
Guiné, Serra Leoa e Nigéria, todos na África Ocidental – tem direito,
sim, a reembolso integral.
Ela diz que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) respalda esse tipo
de situação, em que há um fato “superveniente” (como uma epidemia que
põe em risco a saúde) . “No caso do Ebola, há motivo de força maior para
o adiamento ou cancelamento da viagem”, argumenta ela. E orienta: “os
passageiros devem entrar em contato com a empresa contratada e chegar a
um acordo; se não der certo, deve protocolar a reclamação, por escrito,
em um órgão de defesa do consumidor”.
Se a viagem for a passeio, diz Maria Inês, é possível até efetuar a
troca de destino por outro com valor equivalente. Tudo depende da
negociação com a fornecedora dos serviços. E isso, segundo ela, vale
para passagens aéreas, hospedagem, cruzeiros ou qualquer outro serviço
relacionado.
Mas, se a viagem for para outro destino africano, as condições
previstas no contrato regular serão mantidas. Ou seja, quem tem passagem
marcada para a África do Sul – até agora sem registro de Ebola – terá
reembolso de 25% a 50% do valor da passagem, a depender da tarifa
adquirida, assim como para quem deseja remarcar o bilhete. A companhia
aérea South African Airways informa
que, por enquanto, não houve grande número de desistências nas viagens
previamente agendadas para o continente africano. Os passageiros, até
agora, apenas têm feito consultas e tirado dúvidas, informa o serviço de
atendimento ao cliente.
No Brasil, por enquanto, as autoridades anúncios de voz vêm sendo veiculados a cada 30 minutos no Aeroporto Internacional de São Paulo,
em Guarulhos, o principal porto de entrada no País. A gestora do
terminal aeroportuário acredita que a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) “deve implementar novos procedimentos em breve”. O
Ministério da Saúde pode anunciar a qualquer momento medidas de controle
de passageiros e voos. Por enquanto, concentra as informações sobre a
doença em um canal com perguntas e respostas.
Riscos
E o risco de contágio? Segundo a própria OMS, esse
risco é muito baixo. Para se contagiar, é necessário que haja contato
físico direto com sangue, secreções ou outros fluidos corporais tanto de
pessoas e animais vivos ou mortos. Por isso, aconselha-se evitar
qualquer tipo de contato. No momento, a doença está restrita a quatro
países: Libéria, Guiné, Serra Lagoa e Nigéria, destinos que devem ser
evitados segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, órgão responsável por emitir alertas e orientações para viajantes norte-americanos.
Apesar de haver consenso entre as autoridades sanitárias de que é
baixo o risco de “importação” do Ebola, o caráter virulento da doença
requer atenção. Países europeus já preparam uma série de medidas, a
serem divulgadas em breve, para prevenir uma eventual epidemia em seus
territórios. O comissário para Saúde e Proteção aos Direitos do
Consumidor da União Europeia (UE), Tonio Borg, declarou que considera
“improvável” que o Ebola chegue à Europa.
Na França, por exemplo, o governo já ordenou que nove hospitais criem
centros de acolhimento de emergência para pacientes infectados. A
Espanha lida com um caso confirmado, o do padre espanhol Miguel Pajares,
que contraiu a doença quando trabalhava na Libéria e está sendo tratado
em Madri. Postos de informação da Cruz Vermelha poderão ser instalados
nos principais terminais europeus, a exemplo do que ocorreu no auge da
gripe A.
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